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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Supervisor da CET-Rio morre após ser atropelado por motorista de ônibus no Centro
Condutor da empresa Paranapuan havia se envolvido num acidente e passou por cima de David Bezerra da Silva após discussão
POR ANA CLÁUDIA COSTA E LUIZ ERNESTO MAGALHÃES
11/02/2015 8:15 / ATUALIZADO 11/02/2015 22:57

 RIO — Cada vez mais comum, a frase ‘‘uma briga de trânsito terminou em tragédia no Rio’’ não é capaz de dar a dimensão do desfecho absurdo que teve uma batida banal no Centro da cidade, na noite de terça-feira. Logo após se envolver numa colisão sem gravidade, o motorista de ônibus Leandro Rodrigues da Silva, de 29 anos, discutiu com o supervisor da CET-Rio David Bezerra da Silva, de 33 anos, e o atropelou. O veículo passou por cima das pernas e do quadril do agente de trânsito. Internado no Hospital Souza Aguiar, David morreu nesta quarta-feira. A terça-feira que terminou de forma brutal com a morte do servidor tinha começado bem para ele, cheia de emoção. Horas antes da briga, David havia trocado várias mensagens com a mulher pelo celular, preocupado e feliz com o primeiro dia de aula de seu filho de 4 anos.

O ônibus da linha 323 (Castelo-Bananal) e a motocicleta usada pelo funcionário da CET-Rio: colega de trabalho da vítima diz que atropelamento foi intencional - Divulgação / CET-Rio
Eram 20h30m quando Leandro, dirigindo um ônibus da linha 323 (Castelo-Bananal), da Viação Paranapuan, se envolveu num acidente de pequena gravidade com um carro. Após fazer anotações sobre o caso, David pediu aos motoristas que seguissem viagem, já que seus veículos estavam provocando congestionamento. Leandro se recusou a fazê-lo, argumentando que só iria embora após a chegada de um supervisor da empresa. Teve início, então, uma discussão.
'ELE MATOU MEU AMIGO, QUERO JUSTIÇA'
Durante o bate-boca, David disse que chamaria um reboque. Em seguida, Leandro entrou no ônibus, ligou o motor e acelerou. Colega de trabalho de David, Michael da Silva Lima, que estava no local da tragédia, negou a versão.
— Estou chocado. O motorista fez aquilo de forma claramente intencional. Ele tentou jogar o ônibus em cima de nós. Eu consegui escapar, mas David não teve tempo de subir em sua motocicleta, e o ônibus passou por cima dele. Chamei os bombeiros e a polícia. Queria saber o motivo de o motorista não ter sido preso. Ele matou meu amigo, quero justiça — disse Michael.

Supervisor-geral de trânsito da CET-Rio, Carlos Eduardo Lopes da Silva afirmou que o motorista de ônibus tentou fugir, mas foi impedido por PMs. Leandro foi levado para a 4ª DP. Ele afirmou que o veículo deu um ‘‘solavanco’’ e, por isso, acabou atropelando o agente da CET-Rio. Leandro foi liberado.
Por meio de uma nota, a Polícia Civil informou que o delegado Cláudio Vieira está analisando as imagens gravadas pela câmera interna do ônibus e aguarda as de equipamentos da prefeitura na Avenida Presidente Vargas, além do laudo da perícia feita no local. Como não foi comprovado que Leandro teve a intenção de atropelar David, ele acabou sendo liberado. No entanto, o motorista deverá depor novamente sobre o caso e poderá ser indiciado por homicídio, se for comprovado que agiu intencionalmente.
Segundo investigadores, não foi a primeira vez que o motorista se envolveu num incidente desse tipo enquanto dirigia um ônibus. Há aproximadamente um ano, Leandro e um motociclista discutiram após uma batida na Tijuca. Instantes depois, ao fazer uma manobra para tentar atingi-lo, teria batido num táxi.
A polícia também apura uma suposta tentativa da Paranapuan de dificultar o trabalho de peritos. Há a suspeita de que o ônibus passou por uma lanternagem quando chegou ao pátio da empresa.
Em uma nota, a Paranapuan informou que Leandro ficará afastado do trabalho até a conclusão da investigação. Segundo a empresa, ele foi contratado há seis meses e, ao contrário do informado pela polícia, não teria histórico de problemas no trânsito. A companhia prometeu dar assistência à família de David.
'ESSA BARBÁRIE NÃO PODE FICAR IMPUNE'
Após ser informada da morte do controlador de tráfego, a CET-Rio veiculou em todos os seus painéis mensagens em homenagem a David. Entre os funcionários, o clima era de grande comoção. O diretor de Operações da companhia, Joaquim Dinis, disse estar convencido de que o motorista de ônibus praticou um homicídio.
— Vamos vascular todas as imagens gravadas. Essa barbárie não pode ficar impune — afirmou.
David trabalhava há cinco anos na CET-Rio. Antes, foi batedor do Exército. Ele era casado, morava no Jacaré e, nas horas de folga, ajudava a mulher a cuidar de uma lan house perto de casa. Saía pouco: gostava de receber amigos e fazer churrasco em dias de jogo do Botafogo, uma de suas paixões. A maior delas, segundo parentes e amigos, era o filho de 4 anos, para quem mandou, pelo celular, no dia de sua morte, uma foto na qual aparece sorrindo com o uniforme de controlador de tráfego. Ele havia tido um dia difícil devido ao protesto que parou a Ponte Rio-Niterói, mas queria saber se o menino tinha ido bem em seu primeiro dia de aula.
ACIDENTE VIOLENTO E MORTES NA ROTA DA EMPRESA DE ÔNIBUS
A Paranapuan é uma velha conhecida dos cariocas que acompanham notícias de acidentes e brigas no trânsito. Em abril de 2013, nove pessoas morreram e várias ficaram feridas na queda de um ônibus da empresa — linha 328 (Bananal-Castelo) — do Viaduto Brigadeiro Trompowski, que dá acesso à Ilha do Governador. Segundo testemunhas, o motorista trafegava em alta velocidade e discutiu com um passageiro, que não teria conseguido desembarcar no ponto desejado. Irritado, ele pulou a roleta para cobrar explicações do motorista, dando início a um bate-boca que culminou com o veículo, desgovernado, despencando da via. Depois do acidente, descobriu-se que o veículo estava com o licenciamento do Detran vencido — a última vistoria era de 2011. Não bastasse, acumulava, desde 2008, 46 multas, sendo 12 relativas a avanço de sinal e 14 por excesso de velocidade.
Num outro episódio, em fevereiro do ano passado, um motorista da Paranapuan matou um colega de profissão, também depois de uma briga de trânsito. Após uma batida, Francisco Edvaldo da Silva, de 42 anos, da Viação Bangu, desceu e pediu que o outro motorista, da Paranapuan, Jailton Santos Silva, de 31, fizesse o mesmo para discutir o problema, mas ele se recusou. Jailton, de acordo com relatos, teria então avançado em direção a Francisco, que foi atropelado arrastado por cerca de 500 metros.

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